
Apesar do crescimento nas receitas com TV e bilheteria em 2024, clube mineiro enfrenta desafio financeiro gigante e busca aportes para equilibrar contas
Em entrevista coletiva realizada na Arena MRV, o investidor Rafael Menin, um dos principais gestores da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Atlético-MG, abriu o jogo sobre a complexa situação financeira do clube. De acordo com dados recentes, o Galo amarga uma dívida que pode chegar a R$ 2,3 bilhões, valor que, segundo análise de especialistas, demandaria entre 19 e 22 anos para ser quitado integralmente caso o clube mantenha suas atuais receitas e comprometa parte delas para o pagamento do passivo.

Menin detalhou que o endividamento envolve diferentes frentes: R$ 900 milhões relacionados a empréstimos bancários para a construção da Arena MRV, R$ 350 milhões provenientes do programa PROFUT, e cerca de R$ 200 milhões vinculados a pagamentos parcelados de atletas e outras obrigações financeiras. Apesar de o clube divulgar uma dívida oficial em torno de R$ 1,3 bilhão, o consultor financeiro César Grafietti, autor do relatório “Convocados”, pondera que, ao considerar dívidas onerosas, impostos e débitos parcelados, o valor real ultrapassa R$ 2 bilhões.
O relatório destaca que, mesmo com um expressivo crescimento da arrecadação em 2024 — impulsionada pelo bom desempenho esportivo, incluindo avanços na Libertadores e Copa do Brasil —, o Atlético-MG não conseguiu reverter seu endividamento de forma significativa. O faturamento anual atingiu R$ 674 milhões, recorde histórico, com destaque para os R$ 248 milhões em direitos de transmissão e R$ 81 milhões em bilheteria na Arena MRV, que cresceram respectivamente 46% e 52% em relação a 2023.

No entanto, o investidor alertou que pagar a dívida de forma orgânica, ou seja, com receitas normais do clube, é uma tarefa quase impossível diante do atual cenário econômico e da competitividade do futebol brasileiro. “Sem aporte externo, a situação fica praticamente insustentável”, afirmou Menin, ressaltando que a “alta” do clube seria acelerada apenas com investimento significativo dos acionistas ou novos investidores. Ele também mencionou o aporte de R$ 100 milhões garantido pela família Menin até 2026, após a tentativa frustrada de captar recursos via FIGA — fundo que visava envolver torcedores no financiamento do clube.
Especialistas recomendam que o Atlético realize um aporte financeiro na casa de R$ 600 a 700 milhões, aliado a um rigoroso controle de despesas, para reduzir os encargos financeiros e viabilizar o equilíbrio das contas. Atualmente, a folha salarial do clube gira em torno de R$ 323 milhões, número que precisa ser ajustado para manter os gastos dentro de 80% da receita total, garantindo margem para pagamento da dívida.
Menin também fez uma autocrítica ao afirmar que o clube vive um momento financeiro delicado, embora melhor que o registrado há cinco anos, quando o Atlético era um “paciente terminal” e, na chegada da SAF, estava “entubado na UTI”. Ele frisou que o clube fará esforços para que em 2025 alcance um resultado operacional próximo do equilíbrio, destinando o que sobrar ao pagamento dos juros e amortização do passivo.
Sobre o futebol, o dirigente afirmou que a temporada atual tem metas claras, incluindo a conquista do Campeonato Mineiro e boas campanhas na Copa do Brasil, Sul-Americana e Campeonato Brasileiro. A expectativa é manter um elenco competitivo, mesmo que com ajustes na janela de transferências, equilibrando saídas e contratações.

Por fim, Rafael Menin revelou que o Atlético segue em busca de novos investidores para a SAF, pois somente com capital adicional será possível aliviar o peso da dívida onerosa e administrar o clube com maior tranquilidade financeira.
